O médico urologista Lawrence Aseba Tipo, que já atuou no Hospital Heliópolis, Zona Sul de São Paulo, explica que nosso corpo costuma falar conosco por meio de sinais sutis, muitas vezes ignorados em meio ao ritmo acelerado da vida moderna. Entre esses sinais, mudanças nos sentidos do olfato e do paladar têm ganhado destaque na medicina preventiva.
Embora pareçam inofensivas, essas alterações podem ser indicadores precoces de condições sistêmicas mais complexas. Reconhecer esse tipo de sintoma pode significar a diferença entre um diagnóstico tardio e uma intervenção precoce. Afinal, o que nosso nariz e nossa língua tentam nos dizer?

Será que a perda de cheiro ou sabor é apenas um resfriado?
Muitas pessoas atribuem a diminuição ou perda do olfato e do paladar a gripes comuns ou alergias passageiras. No entanto, quando essas alterações persistem após o quadro agudo ter passado, elas podem estar apontando algo mais sério. Lawrence Aseba informa que pesquisas recentes mostram que a redução do olfato e a perda do paladar estão frequentemente associadas a desequilíbrios metabólicos, disfunções endócrinas ou até mesmo processos neurodegenerativos.
Por que o sistema olfativo é tão sensível a doenças distantes?
O epitélio olfativo tem uma característica única: ele se conecta diretamente ao sistema nervoso central. Isso o torna uma “janela para o cérebro”, capaz de refletir alterações neurológicas antes mesmo dos sintomas motores aparecerem. Em doenças como o Parkinson e Alzheimer, por exemplo, a perda do olfato pode surgir anos antes dos sinais cognitivos ou motores clássicos, pois a presença de proteínas anormais pode se acumular nessa região, interferindo na percepção sensorial sem causar outros sintomas imediatos.
Como o diabetes pode se manifestar por meio do paladar?
Segundo Lawrence Aseba Tipo, a perda ou distorção do paladar também está relacionada a condições metabólicas, especialmente o diabetes mellitus. Alterações na regulação da glicose podem impactar os receptores gustativos e os nervos que transmitem as sensações ao cérebro. Pacientes diabéticos também relatam com frequência um gosto metálico ou amargo constante, muitas vezes confundido com problemas bucais. Quando associado a outras alterações o sinal deve ser investigado com atenção.
Pode uma simples mudança de preferência alimentar ser relevante?
Sim, pode. Uma mudança repentina nas preferências alimentares, especialmente por sabores mais intensos ou doces, pode estar ligada a alterações hormonais ou emocionais. Doenças da tireoide, como o hipotireoidismo, podem modificar a percepção gustativa e aumentar o desejo por alimentos específicos. Ademais, transtornos psiquiátricos, como depressão, também influenciam o paladar indiretamente, reduzindo a motivação para comer ou distorcendo a experiência sensorial dos alimentos.
Existe relação entre inflamação crônica e alterações sensoriais?
Cada vez mais estudos apontam uma ligação entre inflamação sistêmica e alterações no olfato e paladar. Condições autoimunes, como lúpus e Sjögren, afetam as glândulas salivares e mucosas, comprometendo a lubrificação das vias respiratórias superiores e a capacidade de sentir aromas e sabores. Lawrence Aseba Tipo também frisa que marcadores inflamatórios elevados podem danificar terminações nervosas responsáveis pela transmissão dos estímulos sensoriais, levando a uma percepção alterada.
Por que os médicos ainda negligenciam esses sinais?
Apesar do crescente número de evidências científicas, muitos profissionais da saúde continuam a subestimar essas queixas. Tais sintomas são frequentemente considerados secundários ou irrelevantes em relação a queixas mais óbvias. Parte do problema está na falta de protocolos padronizados para avaliação desses sinais em consultórios de rotina. A escassez de tempo nas consultas médicas também dificulta a coleta detalhada do histórico clínico do paciente, deixando pistas importantes de fora do diagnóstico.
Será que devemos começar a ouvir melhor nossos sentidos?
O eficiente Lawrence Aseba Tipo conclui que prestar atenção às mudanças sutis no olfato e no paladar pode ser o primeiro passo para detectar doenças sistêmicas em estágios iniciais, quando o tratamento tende a ser mais eficaz. Pacientes devem ser encorajados a reportar qualquer alteração sensorial, por menor que pareça, enquanto os profissionais de saúde precisam integrar essas informações aos exames clínicos. O corpo não mente — às vezes, ele apenas fala baixo, e cabe a nós escutarmos com mais atenção.
Autor: Hanna Beth