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Guerra na Ucrânia: como o conflito ainda afeta a economia do ES

Faz mais de um ano que Moscou lançou seu primeiro míssil à Ucrânia e, de lá para cá, o conflito apenas se intensificou com investidas de ambos os lados e um mundo atônito que assiste a economia ser afetada em todo o globo.

A verdade é que não há sequer previsão para que o fogo cesse. E os impactos econômicos podem ser sentidos em todo o Brasil, inclusive no Espírito Santo. Mas como o conflito atinge diretamente a economia capixaba?

A guerra encarece itens de tecnologia que vão do gás aos automóveis, passando inclusive por fertilizantes e produtos destinados ao cultivo de hortaliças e criação de animais. O Espírito Santo não fica imune a este aumento de preços e escassez.

Segundo o professor e economista Antônio Marcus Machado, o conflito já fervilhava há alguns anos com as constantes investidas e bloqueios a produtos e cultura russa no ocidente por parte de grandes potências como os Estados Unidos, o que ele definiu como “russofobia”.

Isso acabou dificultando a distribuição de petróleo e gás natural russos que abastecem diretamente a Europa, fazendo com que o continente, e até os próprios Estados Unidos, passassem a rever e procurar novas fontes energéticas.

De acordo com o economista, o Estado capixaba tem sido diretamente afetado pelo conflito por ter um componente de internacionalização enorme, o que causa alta nos preços do produto interno e também na exportação.

Impacto no mercado capixaba
“O Espírito Santo é mais afetado por ter um componente de internacionalização muito grande, tanto de importações quanto de importações. Nós temos empresas que produzem praticamente para o exterior, que são nossas principais empresas. Temos um mercado internacional muito forte”, disse.

“O Espírito Santo é um Estado Global, tem empresas transnacionais. Tem várias empresas que dependem dessa cadeia global. Ele perde em exportações e importações que passavam por aqui para ir para outros centros”, complementou.

Além disso, o fator importação também tem papel preponderante nessas dificuldades.

“E eles importam produtos eletrônicos para fazer suas plantas funcionarem, então há um impacto maior aqui do que em outros Estados que não têm essa vocação, essa interação global”.

Ainda de acordo com o professor, a área produtiva agrícola do Espírito Santo depende de fertilizante e ração para aves. E todo o conflito acaba afetando diretamente no preço destes produtos para importação.

No Brasil, de forma geral, o cenário é bem parecido. Segundo o economista, o brasileiro tem notado esta diferença no preço dos alimentos, pois a forte produção agrícola encontra dificuldades. A exportação a preço elevado dificulta a venda dos produtos como dos fertilizantes a outros países.

Além disso, os donos de automóveis também sentem na pele o encarecimento e escassez de produtos para os carros.

Automóveis e alimentos
Quem tem automóvel sentiu que os componentes eletrônicos ficaram muito prejudicados em oferta. Isso porque tudo estava bloqueado e os portos não recebiam os produtos russos. O que causou uma confusão enorme para o bolso do brasileiro, explicou Machado.

Sobre a Ucrânia, ele é enfático em dizer que o conflito afeta diretamente a segurança alimentar mundial.

“Fora a Ucrânia, que já foi considerada o celeiro do mundo para Europa, está destruída, então toda a produção de alimentos da Ucrânia está paralisada, o que afeta também a questão dos alimentos no mundo e isso é muito grave em termos de segurança alimentar”, disse.

O economista alerta ainda que a participação de China e Índia no conflito também trouxe um novo panorama geoglobal, com os Brics, o que pode afetar o Brasil diretamente.

Ucrânia tem responsabilidade, assim como a Rússia, diz Lula
Em sua visita à China na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não se esquivou a tecer comentários sobre o conflito que leva mais de um ano. De acordo com o presidente, a Ucrânia também tem responsabilidade no conflito, assim como a Rússia.

Lula diz que é preciso o diálogo não apenas entre as duas nações, mas também que haja um desestímulo à guerra por parte dos Estados Unidos e União Europeia, historicamente do lado ucraniano.

O presidente afirmou que o ponto principal das reuniões entre líderes mundiais é mediar a conversação para que se possa se estabelecer um clima de paz em todo o mundo.

O motivo de toda a pólvora
Desde a primeira troca de tiros em 2014, em que a Rússia anexou a península da Crimeia, uma pergunta pairou: por que, afinal, este povo briga tanto? A verdade é que esta região é historicamente marcada por disputas fronteiriças, como explica o historiador Rafael Simões.

Os conflitos tiveram início ainda no século XI, quando foi formado o Principado de Rus, onde começaram as formações dos estados nacionais, o que, por consequência, sempre gerou tensões fronteiriças.

Já nos séculos 19 e 20, o barril de pólvora começou a se inflamar ainda mais com os problemas de fronteiras entre Rússia, Polônia, Ucrânia e Belarus, o que foi apaziguado com a formação da União Soviética em 1922.

“Neste momento a questão ficou estabilizada, e tudo isso ganha ainda mais respeitabilidade após a Segunda Guerra Mundial. Ainda existe uma realidade de guerra, mas com o acordo de não se mexer em nenhuma fronteira”, explica o historiador.

Com o fim da União Soviética em 1991, há a formação de diversos grupos nacionalistas nas 15 repúblicas que formavam a URSS. Para piorar as coisas, Rússia, Ucrânia e Belarus entram em graves crises ainda durante o governo de Boris Yeltsin.

Segundo o historiador, em 1998 com a posse de Vladimir Putin, o novo presidente tinha apenas dois objetivos: garantir a segurança russa e restabelecer o contato com ex-nações soviéticas.

A Guerra
Até 2014 a Ucrânia era liderada por governos pró-Rússia, principalmente no leste, onde há uma vasta população russa., o que mudou naquele ano, após a chamada Revolução Laranja, dando lugar a um governo extremamente pró-ocidente.

Naquele ano, a Rússia anexou, por meio de força, a região da Crimeia ao território do país e declarando a região oficialmente na constituição um território russo, o que incentivou a guerra ainda mais.

Acontece ainda que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), anexou a seu plantel diversos países que historicamente fizeram parte da União Soviética, o que, na análise do historiador, acabou encurralando a Rússia.

“Ele se sente pressionado pelo ocidente liderado pelos Estados Unidos, pela Otan e pela União Europeia, que acabam espremendo a Rússia. Países como Hungria, República Tcheca e Polônia se tornaram parte da Otan, o que para ele é inaceitável”.

O convite por parte da Otan para que a Ucrânia integra-se a Organização foi o estopim final para que o conflito realmente começasse.

Principais consequências

“Ele se sentiu incentivado a esta guerra, pois há uma desorganização política desde o fim da URSS. Na minha análise, ele quer garantir a segurança da Rússia evitando que a Ucrânia ingresse na OTAN”, relatou.

O impasse, segundo ele, acontece justamente neste ínterim. Caso a Ucrânia não ingresse na Organização é a sua segurança que pode estar em jogo.

A guerra vai muito além dos dois países europeus, de acordo com o historiador, pois pode dividir o mundo em dois blocos: a OTAN e BRICS que é um agrupamento de países de mercado emergente em relação ao seu desenvolvimento econômico, do qual o Brasil faz parte.

Além de intensificar os conflitos entre China e Estados Unidos, uma vez que ambas as potências apoiam um lado específico do conflito.

“Este é o grande desafio. Como coordenar esses dois movimentos? Garantir os interesses de ambos e por outro lado ajustar estas disputas de poder mundial”, finalizou.

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