Brasil

Amazônia legal concentra as cidades mais violentas do Brasil

O assassinato ainda não esclarecido do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips ajudou a divulgar para o mundo a complexidade de interesses que estão em jogo na Amazônia. E, como a região pode ser violenta. De um lado, atividades ilegais, que vão da exploração ambiental ao tráfico de drogas, de outro indígenas defendendo as terras de seus ancestrais. A dimensão e os impactos dos conflitos ficaram mais claros nesta terça-feira, 28, com a divulgação do Anuário Brasileiro de Segurança Público de 2022. O livro reúne informações oficiais das secretarias de segurança estaduais e das polícias civil, militar e federal. E, de acordo com a análise das estatísticas, os homicídios na Amazônia crescem mais do que no restante do país. A taxa de mortes violentas intencionais (MVI) foi de 30,9 em cada grupo de 100 mil habitantes no ano passado, 38,6% superior a média nacional, que ficou em 22,3.

“É preciso pensar a segurança pública como um direito fundamental para que a promoção do desenvolvimento sustentável na região. Isso passa pelo aperfeiçoamento das capacidades institucionais do estado brasileiro na região”, diz David Marques, coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Elas precisam se fazer presentes de forma contínua, nos mais diferentes territórios, considerados de difíceis acessos, de interior ou de fronteira.” Segundo Marques, as ferramentas públicas existem, mesmo que de forma deficitária, mas acabam atuando mais na área urbana do que na rural. É justamente nessa imensidão de território vigem, cortado por rios, que os crimes acontecem.

As disputas fundiárias e a devastação ambiental criadas a partir de atividades comerciais e exploratória de recursos naturais, como se fossem inesgotáveis, é apenas uma das questões da região. De acordo com a análise do anuário há uma crise civilizatória que “invisibiliza as práticas, os saberes e a existência dos povos da floresta”. o que intensifica ainda mais as tensões locais. Essa crise estaria difundindo e legitimando as disputas pela posse da terra, pela preservação ambiental, o controle dos recursos naturais e a titulação e demarcação das terras indígenas.

Somado a tudo isso, as organizações criminosas aos poucos estabelecem suas áreas de influência para escoarem as drogas de origem andina para o Brasil, Europa e África. As organizações criminosas estabelecidas em outras regiões, como o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comendo da Capital (PCC). montaram espécies de subsidiárias nas regiões de fronteira. Além disso, passaram a exercer influência nos municípios. Segundo o relatório, também surgiram outras organizações locais, caso da Família do Norte e o Comado Classe A. O Estado é a grande porta de entrada da cocaína do Peru e o skank da Colômbia, que usam os Rios Solimões e Javari como rotas de escoamento. De uma lista com as 30 cidades mais violentas do Brasil, 13 ficam na Amazônia Legal. Com a falta de contingente policial para deter o crime organizado, os povos originários da floresta ficam ainda mais expostos à violência. “É preciso ter um novo paradigma para a atuação da policial que leve em conta as especificidades de cada região”, diz Marques. “Não precisa ter mais polícia necessariamente. Hoje, há concorrência de competências em determinadas áreas e vazio de competências em outras. O que precisa é ter maior articulação entre elas.” Ele destaca que a falta de articulação abre muita margem para os crimes organizadas, o que é extremamente prejudicial para o desenvolvimento de uma grande ativo do Brasil e para a imagem internacional do país.

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